Clamor Popular
O brasileiro pede para que o governo melhore a saúde e combata a violência e as drogas, numa repetição de apelos que parecem não sensibilizar as autoridades.
Pesquisa do instituto Ibope Inteligência, encomendada pela Confederação
Nacional dos Municípios e divulgada na última quinta-feira, expressa de forma
clara as prioridades da população brasileira para o ano que está começando.
Renovam-se apelos que já apareciam com insistência em amostragens no ano
passado e que tornam evidentes as carências da população na área da saúde.
Foram ouvidas 2.002 pessoas em 142 municípios, e a melhoria dos serviços
nesse setor aparece destacadamente como a principal urgência. Mais da metade
dos entrevistados (51%) apontou essa prioridade. Depois, aparecem o combate à
violência e à criminalidade e o controle da inflação (ambos com 29% de
indicações).
Entre 20 itens relacionados como problemas que preocupam os brasileiros, o
mais mencionado foi o tráfico e consumo de drogas – que, não por acaso, está
diretamente relacionado à violência, à criminalidade e até mesmo, direta e
indiretamente, a problemas de saúde. O resultado da pesquisa deve ser tratado
como um pedido de socorro que o brasileiro expressa há muito tempo, sem que
isso provoque reações à altura por parte das autoridades. A saúde pública
brasileira, cujas responsabilidades são compartilhadas por União, Estados e
municípios, tem a mais precária gestão de todas as áreas essenciais.
São graves e crônicos os problemas em educação e segurança, assim como há
deficiências bem identificadas em infraestrutura e outros setores que dependem
muito de governos. Mas nenhum tem a urgência da saúde, pelo motivo óbvio de
que o suporte oficial pode determinar a vida ou a morte de alguém. As carências,
que vão do atendimento básico às cirurgias seletivas, passando pelas
emergências dos hospitais, multiplicam-se no mesmo ritmo da omissão
governamental. A União transfere tarefas para os Estados, que ficam à espera de
ações dos municípios, e o jogo de empurra apenas agrava uma situação
alarmante.
Chama atenção na pesquisa o dado que aponta o combate às drogas, com 20%
de indicações, entre as providências mais reclamadas, abaixo da melhoria da
educação e do combate à corrupção. Tal preocupação tem vínculo com outra
demanda que ocupa o segundo lugar no levantamento, logo depois da saúde, que
é o combate à violência e à criminalidade. São questões que interessam a todos,
independentemente da condição social, mas que representam perdas humanas
mais expressivas, como revelam as estatísticas, para as populações de baixa
renda. Com pesquisas como essa, o governo já sabe o que deve fazer. Falta agir.
EM RESUMO
Editorial comenta pesquisa sobre as prioridades da população em relação ao
setor público e observa que essas são antigas demandas sem respostas efetivas
dos que estão no poder.
Veículo
Zero Hora