Mobilização para ampliar combate à endometriose
ASSOCIAÇÕES MÉDICAS LUTAM para que doença ganhe mais atenção do Ministério da Saúde. Problema afeta mais de 6 milhões de brasileiras
Especialistas reúnem esforços para chamar a atenção para uma doença que afeta mais de 6 milhões de mulheres brasileiras entre 13 e 45 anos. Responsável por 40% dos casos de infertilidade no país, a endometriose é uma das principais causas de ausência no trabalho em decorrência das fortes dores que causa. Para ressaltar a importância do uso de técnicas mais modernas de tratamento, a Sociedade Brasileira de Videocirurgia (Sobracil), em parceria com o complexo Santa Casa e a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), faz, entre hoje e amanhã, um mutirão para realizar oito cirurgias de endometriose profunda – estágio mais avançado da doença que, além de atingir o útero, chega ao intestino e ao trato urinário.
No Estado, a videolaparoscopia, técnica que será utilizada nas cirurgias, não tem cobertura total do Sistema Único de Saúde (SUS) para este tipo de caso.
– Conseguimos doações de materiais mais caros, que o SUS não fornece – diz a ginecologista que coordena o mutirão, Raquel Dibi.
Mais moderna, a videolaparoscopia agride menos o organismo, garante melhor precisão e proporciona recuperação mais rápida se comparada ao método tradicional, coberto pela rede pública, que implica em cortes no abdômen.
– É um absurdo ainda serem feitas cirurgias abertas para tratar endometriose. A videolaparoscopia é mais eficiente, além de ter um tempo de internação bem menor – opina o médico Carlos Isaia Filho, diretor do Centro de Medicina Reprodutiva de Porto Alegre.
EM BRASÍLIA, BUSCA POR MELHORA NO ATENDIMENTO
A Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE) mobiliza médicos em Brasília para que comissões da área da saúde subsidiem campanhas de conscientização e estimulem a criação de novos centros de tratamento.
– Há estudos que mostram que os gastos do governo com a endometriose são semelhantes aos com diabetes e com a doença de crohn que, ao contrário da endometriose, são consideradas crônicas por essas comissões – explica o médico Mauricio Abrão, membro do conselho e fundador da associação.
A endometriose não se enquadra na categoria de doenças crônicas para efeito de políticas públicas de saúde – atualmente, está no grupo de doenças transmissíveis, mesmo não tendo origem contagiosa. A troca de grupo poderia acarretar em mais investimentos no diagnóstico e no tratamento. As mulheres descobrem que sofrem com a doença, em média, sete anos após o surgimento do problema.
– Estamos tentando sensibilizar o governo para a gravidade da doença – diz o presidente da SBE, Rui Alberto Ferriani.
A DOENÇA
O QUE É
A endometriose é caracterizada pela presença de endométrio – tecido que reveste o útero – fora da cavidade uterina. A causa mais comum para o desenvolvimento da doença é conhecida como “menstruação retrógrada”, que ocorre quando o fluxo sanguíneo volta pelas tubas uterinas, sendo derramado nos órgãos próximos, como ovários, peritônio e intestino. Além da impossibilidade de engravidar, a endometriose pode causar cólica menstrual intensa, sangramentos na urina ou nas fezes e dor forte durante o ato sexual.
SINTOMAS
-Cólica menstrual intensa
-Dor profunda na vagina ou na pelve durante relação sexual
-Dor pélvica contínua não relacionada à menstruação
-Prisão de ventre ou diarreia no período menstrual
-Dor para evacuar
-Sangramento nas fezes
-Dor para urinar
-Sangramento na urina
-Infertilidade
DIAGNÓSTICO
Após relatar os sintomas, a paciente passa por um exame clínico com o médico ginecologista. O especialista também pode solicitar exames de imagem complementares.
OS PROCEDIMENTOS
Cirurgia aberta (coberta pelo SUS)
-Com corte feito no abdômen, é uma técnica mais invasiva
-A recuperação pode levar até um mês
Videolaparoscopia (sem cobertura total pelo SUS)
-São feitas três pequenas incisões, por onde entram os instrumentos cirúrgicos – agride minimamente os tecidos
-Maior efetividade na identificação das estruturas a serem operadas
-Recuperação em até uma semana, normalmente
Fonte: Carlos Isaia Filho, diretor do Centro de Medicina Reprodutiva de Porto Alegre
Veículo
Zero Hora