Automedicação: o inimigo mora ao lado
Entre os corredores e prateleiras, o inimigo: remédios para todos os tipos de dores ao alcance das mãos. A facilidade de compra de remédios nas farmácias é um dos principais fatores que tem cada vez aumentado a automedicação entre as pessoas. A automedicação caracteriza-se como um ato de utilizar medicamentos, pela própria vontade ou sob indicação de pessoas leigas (amigo, familiar), sem a orientação de um profissional de saúde qualificado.
Conforme pesquisa do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), a automedicação é uma prática comum no Brasil, estudos indicam que pelo menos 35% dos medicamentos são adquiridos sem prescrição médica. No país 80 milhões de brasileiros possuem o costume de se automedicar, em muitas situações determinando a dose sem nenhum critério. A Sinitox/FioCruz aponta que aproximadamente 138 mil pessoas sofreram problemas devido à automedicação ou uso incorreto dos medicamentos entre 2008 e 2012.
Segundo dados de 2002 da Organização Mundial de Saúde (OMS), indicam que, em média, 5,6 pessoas por farmácia e por semana fazem uso indevido de algum tipo de medicamento. Sendo que 50% dos medicamentos vendidos no mundo são dispensáveis ou inadequados para o tratamento.
Medicamentos aparentemente inofensivos, se ministrados sem orientação médica, podem não ter o efeito desejado, ou até agravar seu estado de saúde. O fato de poder comprar medicamento sem prescrição não permite fazer uso indevido do mesmo. A automedicação, muitas vezes vista como uma solução para o alívio imediato de alguns sintomas pode trazer consequências, tais como:
· Desencadear reações de hipersensibilidade / reação alérgica;
· Propiciar dependência (adição);
· Causar resistência aos medicamentos;
· Lesionar o estômago e causar hemorragias (sangramentos);
· Causar problemas em órgãos (cardíaco, renal e hepático);
· Mascarar diagnósticos permitindo a progressão da doença;
· Interagir com outros medicamentos podendo potencializar, inibir ou anular o efeito dos que já estejam sendo utilizados; e
· Intoxicar, sendo que as classes que mais intoxicam são os analgésicos, os antitérmicos e os anti-inflamatórios. (Anvisa)
Salienta-se que medicamentos ocupam o primeiro lugar dentre as causas de intoxicação registradas no Brasil e está entre as causas mais frequentes de internações hospitalares, de prorrogação da internação ou mesmo de morte.
Segundo a Farmacêutica do Hospital Ernesto Dornelles, Sandra Predebon, os medicamentos de venda livre/MIP, não fazem mal quando consumidos adequadamente, porém, produz efeitos colaterais e devem ser consumidos com responsabilidade, com orientação e conforme bula.
Analgésicos, vitaminas, antiácidos, laxantes e descongestionantes nasais, podem fazer mal à saúde quando o seu uso é indevido.
Fique atento:
- Os fármacos utilizados em resfriados, como o paracetamol, quando utilizado excessivamente pode causar problemas hepáticos, assim como o uso abusivo destes pode inibir o processo de falta de sensibilidade à dor natural, diminuindo a capacidade do organismo de aliviar a dor por si.
- As fórmulas que associam princípios ativos, indicado para dores musculares, é bastante consumido sem receita médica, em altas doses, podem causar queda de pressão em hipertensos e diminuição de reflexos. Conforme bula, alterações do ritmo cardíaco, enjoos e reações alérgicas são alguns dos possíveis efeitos colaterais.
- Descongestionantes nasais garantem alivio imediato, porém quando usados indevidamente podem causar alterações e especialistas alertam que o uso contínuo do líquido pode viciar, fazendo com que o organismo precise cada vez mais de quantidade maior para ter o mesmo resultado. Em longo prazo, os descongestionantes podem danificar a mucosa nasal e, até mesmo, provocar riscos cardíacos.
Para que os medicamentos tenham o efeito desejado, eles devem ser utilizados de forma adequada e com orientação profissional de saúde habilitado.
Sandra Silveira Predebon, Farmacêutica do Hospital Ernesto Dornelles
CRF/RS: 5161
Fontes externas: Anvisa, Sinitox/Fiocruz, Organização Mundial de Saúde e Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade