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A Clínica dos horrores

A história do odontólogo que fez fama e fortuna no Litoral Norte do Estado, passou a mutilar pacientes que pagavam altas somas por cirurgias e implantes, e fugiu para escapar da polícia e da Justiça

05-10-2014

Aos pacientes, o cirurgião-dentista Silvio Carlos Beltrami Gonçalves garantia:

– Sou designer de dentes e vou de te deixar com sorriso de artista de TV.

Por quase duas décadas, ele honrou a palavra, tornando-se um badalado dentista de Capão 

da Canoa. O prestígio se espraiava a outros Estados com a mesma velocidade em que 

Beltrami dirigia sua Mercedes-Benz conversível importada SLK 200 – talvez a única do Litoral 

Norte.

Tratando dentes a peso de ouro, o dentista nascido há 44 anos, em Farroupilha, na Serra, e 

graduado em 1991 pela PUCRS, em Porto Alegre, ganhou dinheiro suficiente para erguer na 

própria moradia uma das mais modernas clínicas da região.

Instalado em um prédio de dois andares com quartos e suítes de internação como se fosse um 

hospital, o Centro de Saúde Beltrami ficava aberto até aos sábados e domingos.

O carro-chefe eram os implantes, média de 60 por mês, número considerado altíssimo para os 

padrões da cidade. O dentista era auxiliado pela mulher, que conheceu quando morava e 

surfava em Torres – uma estudante de Odontologia seis anos mais jovem, que se formaria em 

2013 e com a qual Beltrami viveu durante quase uma década. No Natal de 2010, ela foi à 

polícia dizer que estava saindo de casa, “por desentendimentos entre o casal”. Nessa época, 

começaria a derrocada profissional de Beltrami.

A clínica amanhecia apinhada de pacientes do Litoral Norte, de Porto Alegre, de Santa 

Catarina. Para dar conta, Beltrami atendia de segunda a segunda das 7h até altas horas da 

noite. Segundo relatos de amigos e pacientes, suportaria o cansaço à base de analgésicos de 

uso restrito em ambiente hospitalar. A família chegou a interná-lo para tratamento 

desintoxicante. Como dentista, Beltrami tinha acesso livre a medicamentos especiais.

Diagnósticos assustadores para cobrar mais
Em 2012, a Vigilância Sanitária de Capão da Canoa suspendeu o fornecimento de talonários 

para prescrição de morfina e dolantina – utilizados para aliviar dor intensa, inclusive de doentes 

terminais. O dentista Silvio Carlos Beltrami vinha tentando obter mais receitas, mas, por 

suspeita de uso indevido, constatado por reclamações de drogarias, foi exigido que o dentista 

justificasse a necessidade.

O consumo de remédios controlados teria transtornado Beltrami. Para uma paciente que 

reclamava de dor, teria oferecido morfina.

– Eu não quero isso – retrucou a mulher.

O dentista teria respondido:

– Eu já tomei.

Assim, a promessa de sorriso perfeito logo se transformaria em choro, dor e sofrimento para 

os pacientes – com dentes estragados, dificuldade para mastigar, cuspindo e babando ao falar 

– além de prejuízos financeiros.

Beltrami teria causado lesões em 51 pacientes. Teve registro profissional cassado por causa 

de 16 queixas ao Conselho Regional de Odontologia (CRO). Uma das reclamações dos 

pacientes era de que cobrava por serviços não combinados.

– Queria trocar uma ponte móvel superior e ele disse: vamos colocar implantes. Aceitei, mas 

ele desgastou quatro dentes inferiores para fazer implantes e tive de pagar R$ 4 mil a mais – 

lembra uma microempresária de 56 anos.

O dentista também atemorizava os pacientes com diagnósticos assustadores, para cobrar por 

tratamentos desnecessários, como lembra um oficial da Brigada Militar aposentado.

– Depois de fazer um Raio-X, falou que minha mulher tinha uma bactéria que causaria a perda 

da visão. Cortou um pedaço da gengiva e cobrou R$ 14 mil. Um estelionato.

A mais grave das acusações contra o dentista: ao invés de embelezar os dentes, Beltrami os 

estragava. Para isso, colocava os pacientes para dormir, ainda na sala de espera. Certa vez, 

ao dar Dormonid (sonífero) para um homem, teria dito, em tom de brincadeira:

– É o boa noite cinderela.

Referia-se a um sonífero que golpistas colocam na bebida das vítimas. E o pior: conforme 

consta em processo ético do CRO, aplicaria injeções intravenosas, sem acompanhamento de 

anestesista, fazendo os pacientes adormecerem por longas horas na clínica e colocando-os 

em risco de morte.

– Cheguei no sábado e só acordei no domingo, ao meio-dia, com minha família e meus 

vizinhos batendo na porta da clínica – narrou à polícia uma das pacientes.

A mulher coletou sangue cinco dias depois, e o exame detectou opiáceos (derivados do ópio, 

como morfina e dolantina).

O apagão na cadeira do dentista permitia que ele extraísse ou estragasse dentes saudáveis. 

Depois, diante do desespero de pacientes banguelas, Beltrami se desculpava, alegando que 

era a única alternativa para evitar doenças.

– Só eu posso salvar teus dentes – garantiu a uma paciente.

Em alguns casos, a clientela ficava internada por até uma semana para seguir o “tratamento”. À 

medida que pacientes reclamavam de infecções e dores terríveis, o dentista reagia com 

indignação. Por vezes, nem preenchia receita: imprimia bulas tiradas da internet ou mandava 

uma auxiliar anotar o nome do remédio no verso de cartões de visita.

Há relatos de que Beltrami costumava trabalhar com uma pistola sobre a mesa do consultório, 

levando pacientes a se sentirem sob ameaça. Em audiência no CRO, alegou que era 

colecionador, tinha armas por questões decorativas e guardava armas em outro ambiente da 

clínica, longe do alcance dos pacientes. Uma noite, nervoso, ao ouvir um barulho na recepção, 

o dentista teria pedido ao acompanhante de uma paciente para pegar um revólver para uma 

eventual reação a ladrões, pois acreditava que estavam invadindo a clínica. Na verdade, 

tratava-se de um empregado fechando a porta da frente da clínica.

Mais de 50 queixas e sete processos
Das 51 queixas de pacientes contra o cirurgião-dentista Silvio Carlos Betrami Gonçalves, 

registradas na Polícia Civil de Capão da Canoa, em 26 foram concluídas as investigações e 

remetidos os inquéritos para a Justiça. As demais seguem em apuração. Dos 26 inquéritos, 

sete já viraram processos criminais, com acusação de lesões corporais. Outros 13 foram 

arquivados por falta de provas.

Em setembro de 2012, policiais vasculharam a clínica e a moradia de Beltrami, apreendendo 

prontuários, medicamentos, uma pistola calibre .380, registrada pelo dentista, um revólver 

calibre 38 em nome de outra pessoa e uma besta (arma arco e flecha), além de munições.

Em outubro daquele ano, o dentista foi preso preventivamente, mas evitou prestar depoimento 

à polícia. Foi solto 45 dias depois, fechou a clínica e sumiu de Capão da Canoa. Em um dos 

processos, é acusado de lesão corporal grave, porte ilegal de armas e coação de testemunhas 

(ele teria ameaçado familiares da vítima).

O Conselho Regional de Odontologia (CRO) recebeu 24 denúncias contra Beltrami, 16 se 

confirmaram. A entidade reconheceu graves erros, condenando-o com a cassação do registro 

profissional nos 16 processos éticos, decisão ratificada em primeiro grau pelo Conselho 

Federal de Odontologia na primeira instância, ainda cabendo recurso.

Quando foi suspenso temporariamente pela Justiça Federal, a pedido do CRO, em abril de 

2013, Beltrami alegou que era vítima de um complô para prejudicá-lo, arquitetado por uma ex-

namorada, versão não comprovada.

Também tramitam contra Beltrami na Justiça 11 processos cíveis nos quais pacientes cobram 

indenizações por danos morais e materiais com pedidos de até R$ 250 mil. Em parte dos 

processos Beltrami não foi encontrado pela Justiça. Estaria em Balneário Camboriú (SC), 

onde tem parentes, ou em Buenos Aires, cursando Medicina, segundo relato de ex-pacientes.

Em uma das ações, a Justiça determinou o bloqueio preventivo de bens do dentista, um terreno 

em condomínio de luxo em Capão da Canoa e o que sobrou de uma Mercedes-Benz 

conversível importada SLK 200, ano 2011, após um acidente em Camboriú.

A Mercedes acidentada em Balneário Camboriú registra 16 multas, oito vencidas, a maioria 

por excesso de velocidade.


CONTRAPONTO
O dentista Silvio Beltrami não foi localizado. Zero Hora procurou os advogados dele, Roberto 

Ludwig e Lorenzo Alberto Paulo. Ludwig, que atua nos processos cíveis, informou que não faria 

declarações. ZH ligou quatro vezes para Lorenzo. Em dois telefonemas, ele não foi encontrado 

no escritório. Pelo celular, o advogado informou a ZH que estava ocupado.

PREVINA-SE
- Antes de consultar com um dentista, procure referências sobre o profissional com outros 

pacientes.
- O Conselho Regional de Odontologia (Rua Vasco da Gama, 723, Porto Alegre) informa se o 

dentista está regularmente inscrito, para qual especialidade está habilitado ou se tem alguma 

suspensão temporária. O Serviço Cidadão atende pelo 0800.5105242.

Veículo
Zero Hora

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